quarta-feira, 3 de junho de 2009

METODOLOGIA PROJECTUAL

Em qualquer livro de cozinha se encontram todas as indicações necessárias para preparar um determinado prato. Estas indicações são por vezer sumárias, quando se destinam a pessoas habituadas a estes trabalhos; ou mais particularizadas, no que toda às indicações para cada uma das operações, para os que não têm tanta prática. Às vezes, além de indicarem o conjunto de operações necessárias e a sua lógica, chegam mesmo a aconselhar também o tipo de recipiente mais adequado para o prato que se está a preparar e o tipo de fonte de calor que se deve usar. O método projectual não é mais do que uma série de operações necessárias, dispostas por ordem lógica, ditada pela experiência. O seu objectivo é o se de atingir o melhor resultado com o menor esforço.

Projectar um arroz verde ou uma panela para cozer o mesmo arroz, exige a utilização de um método que ajude a resolver o problema. O importante é, nos dois casos referidos, que as operações necessárias sejam realizadas segundo a ordem ditada pela experiência. Não se pode, no caso do arroz, pôr o arroz, pôr o arroz na panela sem ter posto primeiro a água; ou aloirar o presunto e a cebloa depois de se ter cozido o arroz, ou cozer arroz, cebola e espinafres em conjunto. O projecto num caso destes frustrar-se-á e tem de deitar-se tudo fora. Também no campo do design não se deve projectar sem um método, pensar de forma artística procurando logo a solução, sem se ter feito uma pesquisa para se documentar acerca do que já foi feito de smelhante ao que se quer projectar; sem saber que materiais utilizar para a construção, sem ter precisado bem a sua exacta função.

Há pessoas que, perante o facto de terem de observar regras para fazer um projecto, se sentem bloqueadas nas sua criatividade. Onde vai parar a personalidade? perguntam. Estamos a ficar todos doidos? Todos uns robots? Todos nivelados, todos iguais? E recomeçam a partir do zero a refazer a experiência necessária para projectar bem. Terão de fazer muitos esforços para compreender que certas coisas são feitas antes e outras depois. Desperdiçarão muito tempo a corrigir erros que não teriam cometido se tivessem seguido um método experimental já experimentado.

Criatividade não significa improvisação sem método: dessa maneira apenas se faz confusão e se cria nos jovens a ilusão de se sentirem artistas livres e independentes. A série de operações do método projectual é feita de valores objectivos que se tornam instrumentos de trabalho nas mãos do projectista criativo. Como se reconhecem os valores objectivos? São valores reconhecidos por todos como tal. Por exemplo se eu afirmar que misturando amarelo-limão com azul-turquesa se obtém um verde, quer se use têmpera, óleo, acrílicos, ou pastéis, estou a afoirmar um valor objectivo. Não se pode dizer: para mim o verde obtém-se misturando o vermelho com o castanho. Num caso destes consegue-se um vermelho sujo, em certos casos um teimoso dirá que para ele isso é um verde, mas será apenas para ele e para mais ninguém.

O método projectual para o designer não é nada de absoluto nem definitivo; é algo que se pode modificar se encontrarem outros valores objectivos que melhorem o processo. E isto liga-se à criatividade do projectista que ao aplicar o método, pode descobrir algo para o melhorar. Portanto as regras do método não bloqueiam a personalidade do projectista mas, pelo contrário, estimulam-no a descobrir coisas que, eventualmente, poderão ser úteis também aos outros. Infelizmente um modo de projectar muito difundido nas nossas escolas é o de incitar os alunos a encontrarem ideias novas, como se devessem inventar tudo desde o princípio todos os dias. Desta maneira não se ajudam os jovens a ter uma disciplina profissional e orientam-se em direcções erradas, pelo que quando tiverem acabado o curso irão ter grandes dificuldades no trabalho que tiverem escolhido.

É por isso bom fazer uma distinção imediata entre o projectista profissional, que tem um método projectual, graças ao qual o seu trabalho é realizado com precisão e segurança, sem perda de tempo; e o projectista romântico que tem uma ideia “genial” e que procura forçar a técnica a realizar algo de extremamente dificultoso, dispendioso e pouco prático mas belo. Deixemos pois de parte este segundo tipo de projectista que, para além de tudo, não aceita conselhos e ajuda de ninguém! E ocupemo-nos do método profissional de projectar do designer.

in Das Coisas Nascem Coisas, Bruno Munari

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